O HPV, papilomavírus humano, está normalmente associado a uma DST (Doença Sexualmente Transmissível), e por sua vez à área genital, mas ela também representa um perigo para a boca. E, uma vez instalado na mucosa bucal, seu vírus é transmitido até pelo beijo. O resultado disso é aumento dos casos de câncer de boca e garganta em pessoas cada vez mais jovens, com características de uma epidemia em andamento.
O cigarro e o consumo frequente de bebidas alcoólicas sempre foram apresentados como vilões dos cânceres de orofaringe, especialmente na região da garganta. Embora ambos continuem sendo importantes fatores de risco, ultimamente vem se observando um aumento expressivo de casos da doença relacionados ao vírus HPV.
O oncologista Dr. Luiz Paulo Kowalski, diretor do Núcleo de Cabeça e Pescoço do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo (SP), explica que houve uma mudança no perfil da doença, ou seja, “o que antes era frequente em homens acima dos 50 anos que fumavam e bebiam, agora é mais comum em jovens que fazem sexo oral desprotegido e têm vários parceiros”.
“É uma epidemia que está começando e acredito que por volta de 2020 o número de casos de câncer na garganta por HPV vai superar o provocado por álcool e tabaco”. Atualmente, em São Paulo, cerca de 50% das pessoas com câncer de orofaringe foram infectadas pelo papilomavírus humano.
Para o médico, apesar de a conscientização da sociedade sobre os perigos do tabaco e o consequente abandono do vício, hoje o desenvolvimento do câncer na região da boca é decorrente da mudança de comportamento dos jovens que negligenciam o uso da camisinha.
A principal forma de contágio é o sexo oral, sendo que ainda existe a possibilidade de transmissão do vírus pelo beijo. Por isso, a importância de fazer sexo seguro e procurar restringir o número de parceiros.
Onde se manifesta, primeiros sinais e sintomas
Na garganta, a região preferida é a orofaringe. Mas o HPV também protagoniza tumores na laringe, na ponta d língua, na gengiva, no assoalho e no céu da boca.
O câncer começa como algo parecido como uma afta que não desaparece. São como feridas e verrugas que até podem sangrar. Mas, se não cicatrizar em até duas semanas, uma avaliação criteriosa até mesmo com a avaliação de um oncologista não pode ser descartada. Quando não é descoberto rapidamente, evolui para um formato de couve-flor; isso quando ele não cresce internamente. O principal sintoma, por incrível que pareça, é a dor de ouvido. Mas é possível sentir também dificuldade para mastigar, engolir e até falar.
Os estudos ainda não esclarecem o motivo pelo qual a garganta é a favorita do HPV, mas as suspeitas recaem sobre rica rede linfática da região. A hipótese mais plausível é de que ela favoreça a disseminação do vírus na mucosa e a sua transformação, alterando a maquinária celular e facilitando a proliferação do câncer.
A vacina contra o HPV é a forma mais eficaz de prevenção e deve ser administrada, de preferência, antes do primeiro contato sexual. No entanto, a ginecologista Dra. Neila Maria de Gois Speck, professora afiliada do departamento de Ginecologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e membro da diretoria da Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior, avisa que ela também pode ser usada por pessoas mais velhas.
A indicação de bula é para mulheres entre 9 a 26 anos, mas trabalhos científicos mostram que ela é eficaz até os 50 anos. Além disso, a vacina é aprovada para o uso em homens.
Entre os sintomas do câncer de garganta, o médico do Hospital A.C. Camargo destaca dor persistente e progressiva na região, geralmente de um único lado, e dificuldade de engolir. Segundo ele, como o assunto está mais conhecido pela classe médica e população em geral, o diagnóstico se torna precoce e a chance de cura é maior.
A cura depende da extensão da doença, mas em estágios iniciais a chance é de 90%; em casos mais avançados a porcentagem cai para 70%.
A eficácia da camisinha em conter a transmissão do vírus é de 70 a 80%, porque ela não cobre todas as áreas suscetíveis à infecção. Mesmo assim ela é ainda o melhor remédio de prevenção, além da própria vacina. |