Autor Victor Hugo Cardoso - 10/03/2015
TÍTULO OBESIDADE É AMEAÇA À SAÚDE BUCAL

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Na Universidade de Boston, nos Estados Unidos, 893 homens foram avaliados por quatro décadas. Durante esse período, a maioria daqueles que ganharam peso apresentou uma gengiva mais deteriorada.
Este estudo evidenciou que a obesidade eleva o risco de doenças como a periodontite que como sabemos pode provocar sangramento, inchaço e perda dentária.

Na Universidade de Rijeka, na Croácia, foram recrutados 320 voluntários que foram questionados quanto aos seus hábitos de higiene dental.
A surpresa deste estudo foi que os mais obesos, mesmo quando escovavam os dentes tanto quanto os indivíduos em ótima forma, sofriam com um número maior de cáries e de outras complicações.
Várias possibilidades poderiam explicar este achado. Dentre elas pode-se destacar o estilo de vida e a presença de inflamação, algo mais comum no corpo de um obeso.

Então vamos por partes. Do ponto de vista comportamental, quem está acima do peso tende a ingerir bastante açúcar, nutriente que, além de engordativo, como sabemos é adorado por bactérias nocivas à boca. Isso sem falar que os obesos costumam beliscar guloseimas em vários momentos sem necessariamente realizar uma limpeza bucal adequada após consumi-las.

Mas existem mais coisas por trás deste elo. Hoje está comprovado que os adipócitos - células armazenadoras de gordura - produzem altas doses de substâncias inflamatórias quando estão cheios. Como sabemos as doenças periodontais são caracterizadas por inflamações duradouras. Ou seja, as partículas fabricadas no tecido adiposo, em teoria, poderiam agravar esses males.

Em um levantamento da Academia Sahlgrenska, na Suécia, a saúde bucal de 27 adolescentes com sobrepeso foi comparada com a de 28 jovens magros. No primeiro grupo, os cientistas encontraram mais cáries e inflamações na gengiva. O evidente crescimento dos índices de obesidade nessa faixa etária irá repercutir na saúde de toda a população nos próximos anos.

A gordura visceral, aquela acumulada no fundo da barriga e que infla a região, é a mais temida pelos especialistas. E, ao que tudo indica, também deveria preocupar os dentistas. Este tipo de gordura gera mais inflamações do que a subcutânea, que fica localizada logo abaixo da pele. Esta gordura poderia despejar doses extras de moléculas capazes de lesar a cavidade bucal. Porém isso não quer dizer que dobras debaixo dos braços ou nos quadris sejam inofensivas. Mais investigações são necessárias, mas o excesso desse tecido adiposo também parece estimular, embora em menor escala, processos inflamatórios.

De qualquer forma, um abdômen proeminente atrapalha o trabalho da insulina. Com isso, sobra açúcar nos vasos sanguíneos, aumentando a probabilidade do surgimento do diabete tipo 2. O que essa história tem a ver com a saúde bucal? O diabete por abalar o sistema imune e a circulação, facilita o desenvolvimento da periodontite. À propósito, o impacto de outras consequências da obesidade, como a hipertensão ainda está sob avaliação. No futuro é possível que surjam ligações adicionais entre quilos de sobra e uma arcada dentária danificada.

O caminho inverso também já desperta interesse científico: a falta de higiene bucal estaria favorecendo o ganho de peso? À princípio pode soar estranho, mas existe uma teoria plausível para explicar isto. À medida que a saúde da boca piora, inclusive com perda de dentes, há uma mudança no padrão alimentar, porque a capacidade de mastigação diminui. Aos poucos essas pessoas trocam comidas cheias de fibras e proteínas, com textura mais dura, por opções repletas de carboidrato e gordura, macias e pra lá de calóricas. Além disso, itens pastosos acarretam pouca saciedade.
Assim, seja por falta de dentes, seja por dor ao mastigar - dois resultados típicos da higiene precária -, o sujeito acabaria ingerindo porções mais fartas e engordativas. É bom no entanto ressaltar que isso só ocorre em casos mais graves.

Mas saiba que existe uma outra hipótese que justificaria o ganho extra de peso devido ao mau trato bucal: a comida presa entre os dentes, quando não removida, incitaria a secreção de hormônios gástricos que potencializariam a sensação de fome levando ao consumo exagerado de alimentos calóricos.

Escova, dieta e exercício

Mesmo acima do peso, uma pessoa que utiliza escova, creme dental com flúor, fio dental e antissépticos com regularidade e do jeito certo dificilmente vai ter gengivite. A grande questão é que, talvez, ela precise de um acompanhamento mais próximo do dentista para monitorar suas práticas de asseio bucal e flagrar eventuais chateações logo no seu início.

Em poucas palavras, buscar uma alimentação saudável e equilibrada combinada com a prática regular de atividades físicas é a receita para manter em dia a saúde do corpo e da boca, fazendo a alegria de pacientes, médicos e dentistas.
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