Autor Victor Hugo Cardoso - 10/03/2015
TÍTULO PLANTAS MEDICINAIS NA ODONTOLOGIA - PARTE I

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Alho, aroeira, juá, barbatimão. Romã, cajueiro, hortelã, malva… Se fosse para fazer a relação completa, a lista das plantas medicinais amigas da saúde bucal passaria de 500 espécies. “Só no Nordeste, já foram identificadas mais de 260, com 19 indicações diferentes em odontologia”, conta o professor Fábio Correia Sampaio, coordenador do Grupo de Estudos de Fitoterapia aplicada à Odontologia (Gefao), da Universidade Federal da Paraíba. “As plantas mais usadas são as conhecidas pelas atividades analgésica, cicatrizante e anti-inflamatória”, completa o pesquisador, que em 2009 publicou, junto com os colegas do Gefao, um levantamento sobre o uso de plantas medicinais para tratar problemas bucais em João Pessoa.

Na pesquisa, das várias espécies citadas pelos paraibanos, a romã (Punica granatum) foi, de longe, a mais lembrada. A fruta é também uma das espécies mais investigadas na área acadêmica da odontologia. Na literatura científica, não faltam estudos in vitro comprovando que ela é capaz de eliminar diversas linhagens de bactérias e, assim, prevenir a formação do biofilme dental, a famosa placa bacteriana. “Se não for tratado, o biofilme pode progredir para gengivite e até perda dos dentes e óssea”, explica a microbiologista Paula Cristina Aníbal, que, há quase uma década, estuda a romã na Faculdade de Odontologia de Piracicaba, ligada à Universidade de Campinas (Unicamp). O interesse principal de Paula na fruta é o seu potencial antimicrobiano no combate aos fungos do gênero Candida, que está implicado no surgimento da candidíase oral, o popular “sapinho”. Em 2010, Paula descobriu, em sua pesquisa de doutorado, que também nessa frente a romã é boa de briga. “Os extratos da P. granatum promovem alterações nas células dos fungos, como má-formação da parede celular, inibição do crescimento e agregação celular”, explica.

Tudo bem que a romã pode se destacar na boca do povo e nos microscópios dos cientistas, mas quem ainda reina absoluto nos consultórios é o cravo-da-índia (Eugenia caryophyllata). Suas propriedades antissépticas, aromáticas, analgésicas, cicatrizantes e antifúngicas são conhecidas, literalmente, há séculos. Em 1728, o francês Pierre Fauchard, considerado o pai da odontologia moderna, já indicava o óleo do cravo para o tratamento da dor de dente e da cárie dentária. Seu princípio ativo mais importante, o eugenol, é usado em restaurações desde o final do século 19. É ele, aliás, o responsável pelo cheiro típico dos consultórios de dentista. “O óleo de cravo, embebido em pelota de algodão, pode ser aplicado diretamente no dente cariado dolorido”, diz Rogério Cavalcante, de Rio Branco (AC), cirurgião dentista habilitado em Fitoterapia pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO).

E tem mais: “O chá pode ser usado contra a dor e também para halitose, estomatite e gengivites”, afirma Cavalcante. Autor dos livros As Plantas na Odontologia (Edição do autor, 265 págs.) e Plantas da Amazônia na Saúde Bucal (Edição do autor, 76 págs.), o cirurgião defende que o cravo-da-índia seja adotado como símbolo universal da odontologia. “Ele é a planta mais largamente empregada pelos dentistas do mundo inteiro”, justifica.

Em seu consultório em Curitiba, a dentista Beatriz de Bittencourt Grotzner, também habilitada em fitoterapia, receita outras plantas. Uma delas é a zedoária (Curcuma zedoaria), cujo extrato trata inflamações nas gengivas. “Ela tem ação antibacteriana, antifúngica e analgésica, mas seu uso é contraindicado para grávidas e mães que estão amamentando”, conta Beatriz, que ainda receita bochechos com chá verde (Camelia sinensis). “Ele inibe o crescimento da Streptococcus mutans, uma das bactérias causadoras da cárie, além de ter ação anti-inflamatória e antioxidante”, completa.

Beatriz também lança mão, com frequência, do extrato de própolis. “Ele é coadjuvante no tratamento das enfermidades gengivais, estomatites, aftas, úlceras bucais, candidíase bucal, boca seca e halitose”, lista. Tanta versatilidade deve-se às atividades antimicrobiana, antifúngica, anti-inflamatória e cicatrizante da substância. Ou seja, tudo o que nosso sorriso mais precisa.

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