SELEÇÃO DA COR – Arte e Ciência
O cliente e o profissional
O sucesso do tratamento odontológico estético é avaliado pelo paciente pela boa aparência do sorriso, muitas vezes ele nem leva muito em conta a durabilidade .
O paciente conceitua a boa aparência do sorriso como fator decisivo no processo de relações humanas tanto na área profissional como na pessoal. Ë um fator decisivo para o preenchimento das suas necessidades psico-sociais.
O profissional por sua vez deve ter em mente que a cor do dente a ser restaurado tem a mesma importância que a composição , forma, assimetria, contorno, textura e alinhamento.
Nunca é demais lembrar que a vontade do paciente deve prevalecer a do profissional.
A imagem atrativa e a imagem natural
Os dentes naturais não são brancos , não tem identidade de cores nas arcadas dentárias, nem em toda sua superfície, havendo variações acentuadas .
Os clientes contudo se apreciam , sentem conforto e satisfação psicológica na medida que seus desejos e anseios são satisfeitos com relação a imagem por eles exteriorizadas.
As necessidades psicológicas do paciente devem ser do conhecimento do profissional na anamnese.
É nosso dever lembrarmos que somos dentistas de seres humanos e de sorrisos e não unicamente dentistas de bocas e dentes sendo o nosso papel relevante no bem estar psicológico dos clientes.
O que significa a imagem atrativa ?
Há pessoas que para satisfazer seu padrão de atratividade desejam ter dentes brancos e simétricos . São pessoas que gostam de usar roupas e adornos que chamam a atenção ; pintam as sobrancelhas, lábios e tingem os cabelos com cores extravagantes . Querem que também os dentes chamem a atenção .
Intimamente elas querem conscientemente dizer :
- “Quero ser notada a qualquer custo.”
Não importa que fuja aos padrões de naturalidade.
Gostam que os outros notem e comentem seu padrão de atratividade.
Quantos dentistas já ouviram a seguinte frase:
-“Quero dentes o mais branco possível .
Querem chamar a atenção a qualquer custo.”
A esse comportamento denominamos “a imagem atrativa”.
O que significa a imagem natural ?
Outras pessoas se preocupam que os dentes se harmonizem com outras características da sua aparência facial.
A forma e composição passam a ter maior importância que a cor e para esses clientes , a cor é um complemento do conjunto.
O subconsciente dessas pessoas diz : - “Quero ser notada , mas não somente pelos dentes”.
É mais fácil agradar pessoas que desejam uma imagem atrativa do que as que exigem uma natural.
Dentes brancos são mais fáceis de fazer do que dentes que se harmonizem com os demais.
A cor
A cor é um fenômeno de natureza física, química, fisiológica e psicológica
1- Física – porque depende da luz. (cor é luz).
2- Química – porque depende de pigmentos.
3- Fisiológica – porque depende do olho humano. (células cones da retina)
4- Psicológica – porque depende da interpretação ao nível cerebral.
Todos os componentes têm importância, contudo o psicológico dá uma característica de subjetividade muito forte, sobre a qual não temos controle.
Os aspectos químicos e físicos são objetivos e os psicológicos são subjetivos e sobre estes não temos controle.
Isaac Newton (1966) descobriu que ao incidir uma luz branca (luz do dia) através de um prisma de cristal, pode se observar todas as cores visíveis do arco-iris com comprimento de onda que varia do violeta (menor comprimento = 380 nanômetros) ao vermelho (maior comprimentov = 760 nanômetros).
Os dentes tem cores com comprimento de onda da faixa amarelo-laranja da luz visível.
As três dimensões da cor
Todo corpo possui 3 dimensões no espaço (altura, largura e comprimento); a cor também as possui e elas se chamam Matiz, Valor e Croma.
- é a cor propriamente dita. (amarelo, vermelho, verde, etc.)MATIZ
O marron por exemplo não é matiz mas sim matizes de diferentes valores e cromas.
- ( brilho ou luminosidade ) é o grau do branco ou negro que toda cor possui. Dá a característica escura ou clara a cor . Cores de valor baixo são próximas do negro e de valor alto do branco.VALOR
É a dimensão mais importante a ser considerada ao selecionar a cor, visto que o olho humano é mais sensível ao valor que que a matiz e ao croma.
Numa sala com pouca iluminação o olho não percebe a matiz e o croma, mas o valor (claro ou escuro) é perfeitamente perceptível. Por exemplo na penumbra podemos notar se a cor de uma camisa é clara ou escura sem identificar a matiz e croma.
- (saturação ou intensidade) é o grau de pigmento ou saturação da cor. Pode ser forte ou fraco. Exemplo : o azul celeste é azul com croma baixo e o azul marinho é azul com croma alto.CROMA
Fontes de Iluminação
Cor é luz . Não existe cor sem luz. O tipo de luz que incide sobre um objeto vai exercer influência sobre a percepção.
- cada tipo de fonte de luz pode dar uma interpretação diferente da cor.
- luz incandescente: predomina o amarelo.
- luz fluorescente: predomina o azul e o verde.
- luz natural da manhã e da tarde: predomina o vermelho e o laranja.
- luz natural do meio-dia: predomina o azul.
- a hora ideal, ou que se aproxima disso, para a seleção da cor é ao meio-dia com nuvens esparsas no céu na face norte.
- use a mesma fonte de luz no consultório e no laboratório.
- se a luz do dia é usada, uma seleção de cor próxima a uma janela parece reduzir a influência do ambiente.
- se o paciente é exposto a diferentes tipos de luz: da TV ou do cinema ou luz negra, ultravioleta em discotecas para propósitos profissionais e, então, visto sob tais condições a maior parte do tempo, procure selecionar e combinar a cor a estas condições especiais.
- o técnico em prótese deve participar ativamente desta manobra.
Recomendamos iluminar o consultório com lâmpadas fluorescentes Philipps SUPER 84 – 40 W
A comunicação da cor e as escalas de cores
Se um compositor compõe uma música, qualquer outro músico no mundo poderá reproduzir os acordes da mesma através da notas musicais.
O mesmo não acontece com a cor , que não tem uma maneira precisa nem codificação
adequada para a comunicação.
Na comunicação da cor dos dentes devemos considerar uma 4ª.dimensão que é o grau de TRANSLUCIDEZ.
- as escalas de coresa
-são falhas por não serem padronizadas
-devem ser feitas do próprio material
-a escala Lumin Vacuum-Vita não é feita com a porcelana sobre metal e no momento do uso da porcelana ela é aplicada sobre metal , causando por conseguinte distorções na interpretação das cores.
-a maioria não possue as três dimensões
-os dentes da escala deveriam ser feitas na mesma espessura da futura restauração
A cor dos dentes
A cor dos dentes é transmitida da dentina visto que o esmalte ser vítreo e transparente.
Alguns fatores influem na cor dos dentes , como :
-a calcificação – idade do paciente
-espessura da dentina
-volume da polpa dental
-a posição do dente na cavidade oral
-a pigmentação da gengiva
-o grau de hidratação
Crianças e jovens tem dentes mais claros que adultos e idosos. Os dentes localizados na região mais posterior da cadidade oral sofrem influência do escuro. Lembre sempre que ao colocar isolamento absoluto, os dentes se desidratam e ficam mais claros.
Procedimentos Clínicos
- esterilizar a escala de cores a frio. (álcool , glutaraldeido ou líquido de Dakin )
- remover a porção gengival dos dentes da escala, que pode induzir a falhas na seleção.
- pedir ao paciente para remover batom, rouge, óculos e outros adornos que possam desviar a nossa atenção.
- observar a decoração do consultório (cortinas, carpetes, etc.). Se predominarem cores com matizes fortes, estas podem alterar a nossa observação.
Procure outros ambientes com cores mais neutras. (cinza, azul claro)
- polir os dentes envolvidos e os adjacentes e umedecer o dente da escala de cores com glicerina ou com a própria saliva.
- devem ser feitas mais de uma tomada de cor: no início, durante o tratamento e antes de enviar o trabalho ao laboratório. Nunca após uma sessão cansativa de preparo cavitário, afastamento gengival, moldagem, nem ao fim do expediente.
Metamerismo
- metamerismo é o fenômeno pelo qual o objeto muda a sua cor, quando visto sob diferentes fontes de iluminação.
- para evitá-lo, deve-se tomar a cor sob diversas fontes de iluminação.
Fadiga dos Cones da Retina
Na retina existem dois tipos de receptores nervosos, denominados células bastonete, que registram a intensidade da luz , isto é, diferenciam o valor (claro e escuro); e células cone que reagem de acordo com a variação do espectro da composição da luz, isto é, diferenciam a cor, matiz e croma.
O olho humano tem 100 milhões de células bastonete e 6 milhões de células cone, e tem condições de diferenciar cerca de 300 cores do espectro.
Quando um objeto reflete alguns comprimentos de onda e absorve outros, a natureza dos raios refleticos determina o estímulo no ollho e no cérebro que interpreta a cor.
Se um objeto absorve todos os comprimentos de onda de luz, vai aparecer negro.
Se reflete todos os comprimentos de onda, vai aparecer branco.
- se olharmos fixamente para um objeto durante alguns minutos, os receptores nervosos responsáveis pela visualização das cores (células cones da retina) entram em fadiga.
- a fadiga é caracterizada pela visualização do objeto com uma cor mais acinzentada ou quando olhamos para uma escala de cores e temos a impressão de que todos os dentes da mesma parecem iguais.
- contorna-se este problema olhando somente 10 seg para uma cartolina azul claro.
- a cor azul claro recupera a habilidade dos cones da retina de visualizar os dentes da escala de cores corretamente.
Posição do Paciente
- deve-se tomar a cor com o paciente sentado ou em pé.
- quando sentado, fazer com que a cabeça fique ereta ao nível dos olhos do profissional. A cabeça não pode ficar inclinada para trás.
Posição do Profissional
- deve-se ficar entre o paciente e a fonte de luz. (desligar o refletor)
- quando o paciente for observar um trabalho recém-colocado, deve fazê-lo através de um espelho grande ( 30 x 30 ) fixado na parede , a uma distância mínima de30 cmdo rosto.
- lembrar que os dentes não têm a mesma cor, havendo variações do valor e do croma no mesmo indivíduo e, até, na mesma arcada. (o paciente deve saber desse detalhe)
- o trabalho protético não deve, portanto, ter cor idêntica à dos dentes vizinhos; deve sim haver uma harmonia estética.
SELEÇÃO DA COR – Técnica
- apanhe a escala de cores e observe quais os 3 dentes que mais se aproximam, lembrando-se de não demorar mais do que 10 seg nesta observação e, em seguida, descansar os cones da retina olhando um cartão azul.
- lembrando mais uma vez, o valor ou brilho é importante em se tratando de dentes. Ao fechar um olho, esta dimensão da cor é realçada.
- quanto mais se olha, menor a habilidade de discriminação das cores. Os cones da retina, quando cansados, induzem-nos a ver acinzentado.
- envie o dente da escala ao laboratório, porque escalas de um mesmo fabricante têm diferenças.
- um mesmo dente pode ter várias cores ou manchas, que devem ser marcadas na ficha do paciente e na prescrição para o laboratório.
- um pequeno bloco ou faceta de resina composta, cuja cor coincida com a dos dentes adjacentes ao preparo, se enviado ao laboratório junto com os modelos, auxiliará o técnico.
- sempre que possível, o técnico em prótese deve ter preferência na seleção, porque ele é o responsável pela fase laboratorial e, conseqüentemente, pelo resultado final, devendo assumir esta responsabilidade.
Dificuldades
- quando a cor não “bate”, devemos observar o que deve ser melhorado: o valor, o croma ou os dois.
- quando houver dúvida entre 2 cores, deve-se escolher sempre a mais clara e fraca, porque pode facilmente ser corada e pigmentada, enquanto é impossível clarear uma porcelana escura, sem que se aumente a opacidade da mesma.
Considerações gerais
- a cor dos dentes em adultos é determinada pela dentina, sendo o papel do esmalte sem muita importância por ser transparente.
- quando a luz atinge o dente, ela se difunde pelo esmalte e se transmite através dele.
- se a camada de esmalte é fina ou não há dentina por trás dela (como no bordo incisal), parte da luz é transmitida através do mesmo para a cavidade oral. Esta, por sua vez, reflete a luz para o esmalte, deixando-o com aspecto de vidro translúcido.
- quando a luz chega à dentina, parte é absorvida pelo esmalte e parte é refletida por ele.
- a luz que é refletida e refratada no dente chega ao olho humano e, na retina, excita as células cone, sendo interpretada no cérebro através do nervo óptico.
- a textura superficial tem importante papel na percepção da cor. Assim, quanto mais lisa for a superfície do esmalte, a cor parecerá mais clara (valor alto) e o contrário, quanto mais rugosa e irregular for a mesma superfície, parecerá mais escura.
- pessoas jovens têm dentes mais claros e bordos incisais transparentes.
- pessoas mais velhas têm a camada de esmalte mais fina, transparecendo mais a dentina. Por conseguinte, os dentes parecem mais escuros, principalmente no terço cervical.
- o terço cervical é sempre mais saturado (croma) pelo fato de a camada de esmalte ser mais fina e a dentina ficar mais visível. Ao se fazer uma restauração, deve sempre ser usado um número maior da escala de cor no terço médio do dente.
- o bordo incisal é sempre mais translúcido (transparente) devido à ausência de dentina.
Sugestões
- antes de se tomar a cor, o dente deve ser limpo com pedra-pomes em taça de borracha para se remover todas as manchas extrínsecas.
- a seleção da cor deve ser feita antes da colocação do isolamento absoluto. Um dente desidratado sempre ficará mais claro que o normal e, se este cuidado não for tomado, após a sua reidratação, este voltará à cor normal e a restauração ficará mais clara.
- faça um mock-up (imitação ou simulação cosmética) usando a mesma espessura de resina que será usada na restauração, porque a cor da resina é afetada pela sua espessura. Fotopolimerize a resina do mock-up, porque a resina muda de cor após a sua polimerização. Os fotoiniciadores possuem maior saturação e após a fotopolimerização deixam a resina mais clara.
- use sempre resina de dentina para imitar dentina e resina de esmalte para imitar esmalte.
- se escolher somente uma cor de resina para todo o dente, prefira sempre uma cor de dentina.
- sempre que possível, use uma camada de resina de esmalte sobre a dentina; dará melhores resultados estéticos.
- no acabamento e polimento, procure sempre imitar a morfologia e textura do dente vizinho.
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